Pelé: 8 gols em um único jogo de futebol

Pelé em sua carreira marcou

92 hat-tricks ( 3 gols em um único jogo ),

31 pokers ( 4 gols em um só jogo ),

5 gols num único jogo em 6 ocasiões,

e marcou 8 gols no jogo da 25ª rodada do campeonato Paulista de 1964, em que o Santos venceu o Botafogo da cidade de Ribeirão Preto por incríveis 11 x 0, na reportagem abaixo:-)

Foto:Acervo Santista

Oito gols na mesma partida, quem mais no futebol seria capaz? No auge físico como atleta, Pelé saía de campo com esta marca, no desempenho individual mais impressionante de sua carreira. Coube ao Botafogo da cidade de Ribeirão Preto entrar para o almanaque de façanhas do rei, graças a uma derrota por 11 x 0 em 21 de novembro de 1964, pelo Campeonato Paulista.

Foram cinco gols no primeiro tempo, em um intervalo de 37 minutos. Adversários, companheiros de time e radialistas relatam ter visto Pelé em um dia fora do comum, mesmo para os próprios padrões deles. "Com o diabo no corpo", disse um repórter de campo da Rádio Bandeirantes, à beira do campo, maravilhado pela atuação do então bicampeão mundial.
"Pra mim foi uma tragédia, mas ficou na historia", disse Antoninho (foto abaixo), ex-atacante do Botafogo.

Antoninho em 1964 e 2014.

Dizem que a voracidade ofensiva contra o Botafogo foi por causa do jogo do primeiro turno. Em Ribeirão Preto, o time da casa venceu por 2 a 0, graças a gols de Adalberto e Alex. Pelé não jogou este jogo, quem jogou no seu lugar foi Rossi.Até aí, nada de mais. O problema foi que o time do Botafogo quis fazer chacota com o Santos FC, os fãs locais gritavam olé e diziam que um jogador do Botafogo sentou-se em cima da bola.

"O Botafogo jogou muito bem, ganhou de 2 a 0, o Zito foi expulso.A torcida gritou olé", relata Carlucci (foto abaixo), zagueiro reserva do Botafogo, que jogou como titular no jogo em que sua equipe perdeu por 11 x 0.

Carlucci em 1964 e 2014

Carlucci também diz que a maior lenda gerada no Botafogo 2 x 0 Santos de 6/9/1964 em Ribeirão Preto, envolve especialmente o nome de Pelé. 

Consta que o “Rei” teria sido brutalmente marcado e agredido com cusparadas por um famoso empresário local, no momento em que deixava o gramado do Luiz Pereira. Para chegar até os vestiários, os jogadores ficavam ao alcance dos torcedores postados ao lado do alambrado.

Nada mais falso: Pelé não jogou. O ataque do Santos teve Rossi, Mengálvio, Coutinho, Toninho Guerreiro e Pepe.

O empresário envolvido no espisódio, foi o falecido Quico Calil, dono de A Modelar, uma das maiores lojas de eletrodomésticos de Ribeirão, nos anos 60 e 70. Também boato, também falso: Quico e Pelé tornaram-se amigos fraternais.

“O Pelé não estava em campo. Aliás, o estádio Luiz Pereira não estava lotado justamente por causa da ausência do Pelé. O estádio tinha bom público naquele dia, mas não houve lotação esgotada”, lembra o lateral-esquerdo Carlucci, então com 18 anos de idade, um juvenil de chute muito forte que estava sendo lançado no time principal.

Carlucci – ou Carlo Alessandro Colleone, 68 anos – participou dos 11 x 0 na Vila Belmiro. Na vitória do Botafogo por 2 x 0, ele não estava nem no banco de reservas. Viu o jogo sentado na arquibancada do estádio.
“Não percebi nada de errado, que pudesse provocar ira no Santos. O Botafogo jogou bem, só isso. Quanto ao Zuíno, ele quase sentou na bola. Fez menção de sentar, mas apoiou apenas uma das pernas sobre a bola. O Zito, que estava próximo, perdeu a cabeça, deu um pontapé em Zuíno e foi expulso de campo”, lembra Carlucci.

PELÉ QUERIA SER O MELHOR MARCADOR DO CAMPEONATO PAULISTA

O jogo entre Santos e Botafogo era válido pela 25ª rodada do Campeonato Paulista, em um sábado à tarde, chuvoso. As bilheterias da Vila Belmiro registraram a entrada de 9.437 torcedores para o que parecia um mais jogo normal do campeonato Estadual. 

Curiosamente, quem vestiu de uniforme branco foi o Botafogo, o time visitante. Dono da casa, com direito de escolher o uniforme, o Santos FC foi a campo com a camisa listrada em preto e branco.

Galdino Machado em 1964 e 2008.

Naquela tarde, o goleiro do Botafogo Galdino Machado ( foto ao lado ), entrou 11 vezes dentro da sua baliza para ir buscar a bola. Desta forma, o goleiro do Botafogo ganhou seu pequeno espaço no folclore do futebol brasileiro. Apesar disso, teve atuação elogiada, salvou inúmeros gols além dos 11 que sofreu e foi eleito o segundo melhor jogador em campo, atrás apenas de Pelé.

Para os jogadores do Botafogo, a ânsia de Pelé em marcar gols tinha explicação no fato de o Rei estar em desvantagem na luta pela artilharia do torneio.
"Alguns fatores que entraram para ocasionar esse jogo dos 11 x 0. Em primeiro lugar, o Pelé foi sempre o melhor marcador do Campeonato Estadual, por vários anos seguidos. Mas naquele ano ele estava atrás do Flávio, centro-avante do Corinthians. Se não me engano, estava uns sete gols atrás", diz Antoninho.

7º gol de Pelé no jogo.

"Pelé estava com vontade fora do normal para jogar aquele jogo. 
Cada gol que ele marcava, ele imediatamente ia pegar bola no fundo da baliza e colocava a bola no centro do campo para o jogo recomeçar rápido.E assim aconteceu até que Pelé marcou seu oitavo gol. Chegamos perto dele no fim no primeiro tempo e perguntamos: 'quer marcar ainda mais gols?'. Ele disse: 'Voces gritaram olé lá em Ribeirão Preto. Vocês vão pagar caro aqui'", recorda o antigo atacante, hoje com 75 anos.

Pelé marcou oito vezes, mas também brilhou nos gols dos outros. Na transmissão do jogo pela rádio Bandeirantes AM, o narrador Ennio Rodrigues definiu com empolgação o passe de Pelé para uma jogada bem-sucedida de Coutinho: "maravilhoso, extraordinário, espetacular". Já o repórter Borghi Júnior proferiu: "ele está com o diabo no corpo".

No fim do jogo, o extremo-esquerdo do Santos, Pepe conversou com Ditinho, lateral-direito adversário, e afirmou que mesmo para os companheiros aquela tarde de Pelé parecia "anormal" [Pepe, Coutinho e Toninho Guerreiro marcaram os demais gols da vitória].

No segundo tempo, com o resultado parcial em 10 x 0, o rapaz responsável pelo placar manual da Vila Belmiro passou a enfrentar um dilema, para diversão do público que acompanhou a partida in loco. Simplesmente não havia mais números para a troca. Um torcedor mais brincalhão sugeriu que o menino pegasse a camisa de Pelé e usasse para demarcar os gols. No fim das contas, o rapaz acabou improvisando o marcador com pedaços de letras disponíveis.

Oswaldo Brandão merece uma menção à parte dentro desse capítulo da vida santista. O vencedor técnico gaúcho está marcado no futebol brasileiro, um ídolo indiscutível na história dos clubes Palmeiras e Corinthians. No entanto, naquele finalzinho do ano de 1964, enfrentaria o dissabor de dois jogos quase seguidos contra o time de Pelé e companhia.

O treinador acabaria demitido do Botafogo depois deste jogo, em razão da histórica goleada. Em seguida, Brandão assumiria o Corinthians, que enfrentou o Santos em 6 de dezembro daquele mesmo ano, no Estádio do Pacaembu. E novamente viu um time treinado por ele ser massacrado pelo time de Pelé, agora pelo placar de 7 x 4. Ou seja, o treinador viu suas equipes sofrerem 18 gols em questão de apenas duas semanas (Pelé marcou 12 gols nestes 2 jogos).

O lendário treinador Oswaldo Brandão, 5º da esquerda para a direita.

"Brandão tinha muita personalidade. O primeiro tempo acabou com o placar de 7 x 0. Brandão poderia ter dado instruções aos jogadores para fingirem lesões e saírem de maca". Mas ele disse: "mesmo que seja para sofrermos uma montanha de gols, vamos ficar no campo até o final", relata o ex-jogador Antoninho.

Tomar 11 gols e voltar para casa não é fácil. Os jogadores do Botafogo relatam abaixo como foi o retorno a Ribeirão Preto após a goleada histórica para o Santos de Pelé na Vila Belmiro. A derrota rendeu um mês de chacotas por parte dos fãs do Comercial Futebol Clube, o clube rival da cidade.

Botafogo de Ribeirão Preto em 1964, da esquerda para a direita.

Em Pé:Veríssimo, Expedito e Ditinho, Berguinho, Carlucci e Maciel.

Agachados: Zuíno, Alex, Antoninho, Adalberto e Gaze

"Bem triste. Tomar 11 gols não é fácil. Ainda bem que chegamos em Ribeirão Preto tarde da noite, não tinha gente na rua. Mas foi bem difícil ouvir piadas e gozações dos fãs do Comercial, nosso maior rival na cidade.", conta Carlucci.

"Quando nós voltamos, foi difícil ficar na cidade, aguentar os fãs do Comercial. As gozações não paravam, duraram quase um mês", endossa Antoninho. 

OS OITO GOLS QUE PELÉ MARCOU NAQUELE JOGO

1º TEMPO 

1 x 0

Logo aos 3min de jogo, Pelé abriu o placar. No lance, o Rei recebeu passe longo pelo alto de Mengálvio e tirou o defesa adversário Maciel com um leve toque na bola. Em seguida, chutou com calma por baixo do goleiro Machado

2 x 0

Aos 8min, Pelé recebeu um passe longo de Lima, ganhou de Titi na corrida e tirou Carlucci com um chapéu. Da entrada da área, o Rei acertou um belo chute de pé esquerdo, sem chance para o goleiro de Ribeirão Preto.

3 x 0

Em mais uma jogada bem-sucedida, o Rei aproveitou um cruzamento de Toninho Guerreiro da direita para marcar seu 3º gol. Pelé surgiu com velocidade no meio da marcação e desviou de cabeça para baixo. A bola tocou o gramado antes de entrar, aos 16 minutos.

6 x 0

Aos 38min, o Rei marcou seu 4º gol. Após corner batido por Pepe na direita, Pelé ajeita a bola no peito e chuta de pé esquerdo, no bico da pequena área. A bola bate em Carlucci e volta para o Rei, que emenda de direita. O chute ainda desvia em outro defensor e antes de entrar na baliza.

7 x 0

Aos 40min, Pepe cruzou da esquerda na direção do gol. Coutinho se esticou, mas não conseguiu alcançar a bola. No entanto, Pelé acertou a bola ainda no ar, com um voleio certeiro de pé direito e marcou seu 5º gol.

2º TEMPO

8 x 0

O 6º gol foi aos 25min. Pelé recebeu longo passe de Mengálvio pelo alto, em offside. Mesmo assim, a arbitragem deixou o jogo correr. Pelé então ganhou na corrida de Hélio Vieira, tirou Machado com um drible de corpo e, quase sem ângulo, junto à linha de fundo, empurrou para as redes

9 x 0

1 minuto depois, aos 26min, Pepe é derrubado na área por Ditinho. Pelé cobrou o penalty e marcou seu 7º gol.

10 x 0

O último gol do Rei foi aos 28min, quando o Botafogo não conseguiu mandar a bola para o campo de ataque. Aí, após um cruzamento da esquerda, Pelé desviou para fazer o 8º gol.

Pelé marcou 3 gols em 3 minutos. 

Ficha técnica do jogo:

Santos Futebol Clube em 1964.

21/11/1964 – Santos 11 x 0 Botafogo-SP

Gols: Pelé aos 3min, aos 8min, aos 16min, aos 38min e aos 40min, Pepe aos 19min e Coutinho aos 25min do primeiro tempo; Pelé aos 25min, aos 27min e aos 28min e Toninho Guerreiro aos 45min do segundo tempo.

Local: Vila Belmiro, em Santos.

Competição: Campeonato Paulista

Público: 9.437 pagantes

Renda: Cr$ 14.210.800,00

Árbitro: Carlos Drumond da Costa

Santos: Gilmar; Ismael, Modesto, Haroldo e Geraldino; Lima e Mengálvio; Toninho, Coutinho, Pelé e Pepe. Técnico: Lula

Botafogo: Galdino Machado; Ditinho, Élio Vieira e Tiri; Carlucci e Maciel; Zuino, Alex, Antoninho, Adalberto e Gazze. Técnico: Oswaldo Brandão

Esta página do jornal Estado de São Paulo aqui abaixo tem as fotos de 7 dos 8 gols que Pelé marcou naquele jogo.Foi a única que achei na net. A resolução não é boa, mas serve como registro:-)

E aqui abaixo, mais outra foto do placar histórico

Aqui abaixo a foto da manchete do jornal A Tribuna de Santos

Aqui abaixo, as imagens do jogo que provocou a "fúria" do Rei Pelé:-)
Botafogo de Ribeirão Preto 2 x 0 Santos em 06/09/1964.
Competição: Campeonato Paulista ( campeonato do estado de São Paulo) 
Local: Estádio Luis Pereira, em Ribeirão Preto, SP

Aqui abaixo, a reportagem da TV GLOBO em 21 de novembro de 2014.

E finalmente aqui abaixo,
o relato original do speaker Ennio Rodrigues da Rádio Bandeirantes.