Gol de placa, 50 anos: Pelé fez chorar o Maracanã.
A história que deu origem ao mito do golo mais famoso do rei do futebol.
Por Sérgio Pereira ( extraído do site maisfutebol )
5 de Março de 1961.
Faz este sábado 50 anos que Pelé marcou o golo mais famoso da carreira, e um dos golos mais mediáticos do futebol: o golo de placa. Aconteceu num estádio também ele histórico, o Maracanã. Não ficou guardado em suporte vídeo, mas tornou-se imagem de marca do futebol.
A jogada, dizem, durou uma eternidade e deu origem ao mito, que deu origem à lenda. Por detrás vive, lá está, uma placa. «É uma placa de bronze, singela, feita num ourives na Praça da Sé, ao lado da Catedral de S. Paulo», conta Joelmir Beting. «Custou cinco mil cruzeiros, hoje seriam 120 euros.»
Antes disso, a verdadeira obra: o golo. Estádio Maracanã, no Rio de Janeiro. Era um domingo à tarde. Jogava-se a meia-final da Taça Rio-São Paulo. «O Maracanã tinha 130 mil pessoas. Enchia sempre que o Pelé jogava. Ele dizia que era o estádio que melhor o tratava, porque estava sempre lotado.»
O jogo estava emocionante. «O Santos, e o Pelé, estavam a ser vaiados pelo estádio inteiro, que torcia pelo Fluminense. Aos 72 minutos o Pelé recolheu a bola com o peito, perto da área do Santos, colocou-a no chão, e atravessou todo o relvado, que tinha 112 metros de comprimento», adianta Beting.
«Começou a correr, fintou toda a gente, recuou duas vezes à procura de colegas a quem passar a bola e não encontrou ninguém. Virou-se para a frente, continuou a passar por tudo e todos, passou até pelo guarda-redes Castillo e fez golo.» Há fotos da jogada. Sobretudo de Altair, a maior vítima de Pelé.
É nesse instante, no instante que Pelé faz o golo perante 130 mil pessoas, que nasce o mito. Mete também um nome grande do jornalismo: o eterno Nélson Rodrigues. «Em 1961 eu era um jornalista em início de carreira, tinha 24 anos. Fui encarregado pelo meu jornal, o Esportes, de cobrir o Santos.»
Joelmir Beting viajava para todo o lado com a equipa.
«Ao meu lado na bancada estava Nélson Rodrigues. Ele tratava-me por Guri, porque pensava que eu era gaúcho. Dizia-lhe que era paulista, mas não ligava. Tratou-me toda a vida por Guri. Então virei-me para ele e ele estava a chorar», recorda.
«Estava a chorar com a emoção de 130 mil pessoas a aplaudir Pelé de pé.
Olhou-me e disse: Que pena, Guri. Este lance não vai ter memória.»
Não havia câmaras, eram proibidas para encher o estádio.
Havia uma equipa de cinema, que fazia um filme, mas que só gravou a parte final da jogada.
As palavras de Nélson Rodrigues, «que já era um nome muito conceituado», ficaram na cabeça do jovem Joelmir Beting.
«No regresso a S. Paulo, no avião, ia a pensar naquilo.
Lembrei-me: se não há memória, vamos fazer memória.
Vamos criar uma placa.» Ele próprio tratou da encomenda.
«Ficou pronta na quinta-feira seguinte e domingo foi inaugurada.
O Santos voltou ao Maracanã para jogar com o Vasco e o Pelé inaugurou a placa.
Foi colocada ao lado da foto de Jules Rimet.» Daí nasceu a expressão.
«Era comum os jornalistas escreverem este golo também merece uma placa.»
Mas não mereceram. Pelo menos com aquela história.
A placa ficou durante décadas no espaço nobre do Maracanã
e hoje está no Museu do Futebol, em São Paulo.
O novo Maracanã, que está a ser construído, vai ter apenas uma réplica.
A verdadeira fica bem guardada num museu.
Faz 50 anos que nasceu o golo de placa.
No Brasil vai ser celebrado com uma cerimónia especial.
«Foi o golo mais bonito do Maracanã.
O Pelé diz que entre os golos bonitos que fez, foi o mais difícil.
Até o árbitro Aires de Abreu parou para o cumprimentar.»
Como a placa, o mito também é eterno.
Reconstituição do golo de placa:
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