Pelé, Rei do Futebol, considera visão periférica seu maior diferencial no jogo
No primeiro instante, ninguém entendeu aquela jogada. Pelé recebeu a bola na entrada da área italiana e, em vez de driblar o zagueiro e partir para o gol, tocou-a com pouca força para o lado direito, onde não havia nenhum jogador.
Seria um erro primário cometido pelo rei do futebol? Nada disso. Foi, na verdade, uma jogada genial. Lá de trás, vinha o lateral Carlos Alberto Torres, veloz como um foguete. O passe de Pelé veio na medida exata.
Resultado: mais uma bola no fundo das redes do goleiro italiano Albertosi. Era o quarto gol da Seleção brasileira, que selaria a conquista do tricampeonato mundial, no dia 21 de junho de 1970, no Estádio Azteca, no México.
Qual a explicação para o passe genial? Como Pelé conseguiu perceber, quase de costas, a aproximação de Carlos Alberto? A resposta não tem nada de sobrenatural. Pelé tinha aquilo que, no meio futebolístico, costuma-se chamar visão periférica, a capacidade de perceber, num piscar de olhos, tudo o que se passa à sua volta.
O texto abaixo foi escrito pelo Dr. Túribio Barros em 2015.
O Rei do Futebol completou 75 anos, e merecidamente foi reverenciado por todos nós que tivemos o privilégio de ver, tanto ao vivo como em filmes e documentários, a verdadeira magia de sua relação com a bola.
Comemorações do 4º gol do Brasil na final da Copa do Mundo de 1970, visto por detrás da baliza do goleiro brasileiro Félix. |
Eu tive o verdadeiro privilégio de estar na companhia do rei várias vezes nas últimas décadas, e garanto que em todas elas pude confirmar a verdadeira áurea de simpatia e cordialidade que ele manifesta de maneira absolutamente natural.
Em uma dessas vezes, não consegui evitar fazer uma pergunta que, como profissional da área de esporte, me sentia tentado a ter o atrevimento de elaborar.
A mesma cena vista por detrás da baliza do goleiro italiano.FOTO. GETTY IMAGES |
- Eu considero que o que eu tinha a mais que todos os outros atletas com que eu joguei era a “visão periférica”!
Em seguida ele me deu uma verdadeira aula sobre o conceito de campo visual e sua importância para o jogador de futebol. Ele dizia com verdadeiro conhecimento de causa, que sua percepção visual periférica lhe permitia “antever” o que os adversários que o cercavam iriam fazer e consequentemente ele antecipava suas decisões, obviamente com a genialidade que a natureza lhe conferiu.
Aquela resposta, até certo ponto surpreendente, me proporcionou a chance de observar sob esta ótica vários lances das jogadas mais geniais do Pelé, e de fato comprovar o que ele explicou. Como eu esperava ele não me deu uma resposta comum, como nada do que ele fazia no futebol era!
Pelé e o goleiro Shep Messing no New York Cosmos |
*TURÍBIO BARROS
Mestre e Doutor em Fisiologia do Exercício pela EPM. Foi membro do American College of Sports Medicine, professor e coordenador do Curso de Especialização em Medicina Esportiva da Unifesp e fisiologista do São Paulo FC e coordenador do Departamento de Fisiologia do E.C. Pinheiros www.drturibio.com
Pois é pessoal, além do talento único, Pelé ainda tinha esta "arma secreta",
que ajuda muito a explicar toda a genialidade do Rei do Futebol:-)
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