FILME PELÉ ETERNO

FILME PELÉ ETERNO
A prova definitiva de quem é o melhor jogador de sempre

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

📰 Parte 2 - O GOL 1000 DE PELÉ na imprensa internacional. MIROIR DU FOOTBALL MAGAZINE, janeiro de 1970 ( com tradução e em PDF )

Esta foi a capa da revista francesa Miroi du Football, nº 126, em janeiro de 1970, que dedicou 12 páginas ao futebol brasileiro, 7 delas sobre o gol 1000 de Pelé. 
*Como poderão constatar mais abaixo na tradução das 7 páginas em questão, em nenhuma parte do texto de qualquer uma delas está escrito gol oficial ou não-oficial.


👉Nota do autor:
Eu faço questão de traduzir a essência do texto para a língua portuguesa, por 2 razões:

1ª) Vasculhar palavra por palavra, letra por letra, vírgula por vírgula, para ver com meus próprios olhos se realmente havia o tal "critério oficial e não-oficial". Já traduzi uns 10 textos dos principais jornais europeus daquela época, e até agora, não encontrei "gol oficial" e "gol não-oficial" escrito em nenhum texto.

2ª)  Tenho muitos leitores de todas as partes do mundo, portanto eu sempre que posso, publico o texto para que ele possam ler o que está escrito numa língua que não é a deles.

O lendário jornalista François Thébaud, (na foto abaixo com Pelé ) era um dos mais de 100 jornalistas estrangeiros que estiveram presentes no Estádio do Maracanã em 19 de novembro de 1969. Nesta grande reportagem, ele descreve ao pormenor as todas emoções daquela noite mágica e histórica em que Pelé marcou o 1000º gol da sua carreira.

Há também na página 12 uma crônica especial do jornalista Pierre Lameignère, que faz uma analogia entre o Gol 1000 e a chegada do homem à Lua pela 2ª vez naquele mesmo dia de 19 de novembro de 1969. 
Mas, vamos por partes.

Aqui abaixo, a página 19, onde tem início a reportagem do jornalista francês. 
Além do gol 1000, também fêz reportagens sobre a Seleção Brasileira, e entrevistou João Havelange, presidente da CBD ( hoje CBF ) e João Saldanha, treinador da seleção brasileira na altura.
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Aqui abaixo as páginas 20 e 21.👇

Aqui abaixo, as páginas 22 e 23.👇

Aqui abaixo, a página 44, onde está escrito em letras enormes: O GOL DO SÉCULO
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👉A TRADUÇÃO DA ESSÊNCIA DO TEXTO 
São 3 páginas inteiras ( 20,21 e 22 ) da reportagem sobre o gol 1000.
A página 23 já é o começo da entrvista a João Havelange. 
Vamos a elas, destacadas por cores para melhor entendimento. A leitura é longa.
Página 20
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Na parte destacada em amarelo está escrito:

RIO DE JANEIRO. - Quem vai ganhar a Taça de Prata (Copa de Prata), o campeonato brasileiro oficial? Corinthians? Palmeiras? Cruzeiro? Botafogo? Qualquer coisa relacionada ao "futebol", especialmente quando esses nomes populares são estão envolvidos, fascina este país 15 vezes mais vasto que a França, e nosso esporte é considerado, segundo a seríssima revista "Veja", "a ideia dominante ”.

Mas, na realidade, a temporada de 1969 terminou em durante a noite quente e chuvosa de 19 de novembro quando Pelé fez seu gol nº 1.000, no Gramado do Maracanã.

Por seu impacto global e seu alcance simbólico, este evento foi a apoteose de um ano de futebol cuja primeira "cimeira" foi a brilhante qualificação da seleção nacional para a fase final da Copa do Mundo. Esses dois eventos estão intimamente ligados, nós vamos mostrar isso mais tarde. De antemão é importante descrever e analisar o significado de uma façanha que acabamos de viver na arena gigante de Maracanã, uma estrutura à altura do feito mais formidável que um jogador de futebol já realizou.

PE-LÉ! PE-LÉ!

Qualquer um que ama futebol e o jogador que melhor encarnado sua perfeição, teria gostado que o “gol mil” fosse uma obra de arte genial. Mas ele apareceu como resultado de uma penalidade. De um penalty indiscutível, deve primeiro ser especificado, porque a falta cometida pelo "líbero" de Vasco da Gama, Fernando, cabia apenas nesta sanção, assim como o demonstra o documento fotográfico que nós publicamos. 

Também é indiscutível que apesar da marcação implacável a que foi submetido pelo tenaz e habilidoso René, Pelé poderia ter marcado o gol histórico com um mínimo de sucesso na primeira parte do encontro.. Na verdade, Andrada, graças a uma defesa extraordinária, literalmente defendeu a "folha seca" chutada por Pelé, que quase entrou pela "clarabóia" de sua baliza. Um pouco depois Pelé catapultou um tiro na trave que perfurou todas as barreiras humanas. Nestas duas ocasiões os 80.000 espectadores já haviam se levantado para saudar a façanha ...

Também para eles, o penalty tinha o significado de uma compensação justa. Muitas vezes, a suprema sanção do futebol (o penalty ) divide o público de um estádio. Este penalty foi unânime nas arquibancadas, conquistando inclusive o apoio da forte e ruidosa torcida do Vasco da Gama, cujas bandeiras e estandartes pararam de tremular, cuja gigantesca "batucada" silenciou os seus tambores. Do imenso recinto de concreto onde a multidão se ergueu com o mesmo entusiasmo, brotaram as mesmas sílabas que eram a mesma oração: “Pe-lé! Pe-lé! "

No retângulo verde de 16 metros, Pelé não tinha amigos. Fernando que havia "acertado" nele, o negro alto René que o havia marcado ao centímetro desde o pontapé inicial, o goleiro internacional argentino Andrada, que jurou se opor por todos os meios para impedir o gol histórico, não compartilhavam da vontade da multidão.



Seus companheiros ficaram sobre a linha central. Sozinho com oponentes cujo ressentimento foi explicado pela febre do jogo, Pelé teve que superar a terrível tensão nervosa que primeiro o fez recusar para marcar o pênalti. Está com aparente calma enquanto ele lentamente colocava a bola no ponto branco. Mas no momento em que, depois de dar um passo para trás, estava prestes a ganhar impulso, ele se virou, deu alguns passos na direção oposta, obviamente para se concentrar, sem dúvida por uma palavra ou uma exclamação de Fernando ou de René que pareciam exasperados..

Em seguida, ele arrancou, sem pressa visível, deu em sua corrida curta o tiro falso de esquerda - a "paradinha" como os brasileiros chamam - e com o pé direito acertou a bola bruscamente à esquerda de Andrada. Apesar de uma extraordinária reação ao chute, um reflexo felino e uma posição irregularmente avançada (dois metros à frente da linha), o guardião do Vasco só conseguiu roçar a bola branca de couro em sua trajetória rasante

Pelé corre para as redes, o beijo dele  à "Bola", as suas lágrimas de alegria, a correria dos fotógrafos e repórteres de rádio prendendo-o na baliza, sua "saída corpo a corpo" nos ombros deles, seu reencontro no meio do campo com os companheiros de equipe esperando por ele, sua volta de honra com a camisa do Vasco da Gama com o número 1000 ... incontáveis ​​documentos fotográficos publicados pela imprensa de todos os países deram uma ideia do que aconteceu no centro das atenções de Maracanã.

Mas o que a imagem nunca conseguirá retratar fielmente é a comunhão total, viva e extraordináriamente calorosa do herói desta festa sem precedentes com a multidão, mas também com todo o Brasil e com milhões de jogadores de futebol ao redor do mundo, que aguardavam a façanha fabulosa do melhor entre eles.




Os 550 de McGrory

É preciso trazer aqui uma precisão necessária. Fora do Brasil, tem sido afirmado (timidamente) que um outro jogador antes de Pelé chegou ao 1000 gols: Friedenreich, um brasileiro, recentemente falecido e que chegou às manchetes no ano de 1928. Mas os extremamente raros apoiantes desta tese são incapazes de substanciá-lo com fatos - e isso é compreensível porque na época de Friedenreich não tínhamos meios sérios de controle de eventos esportivos, especialmente em um país com dimensões continentais como é o Brasil e os meios de comunicação e de transmissão não eram como os de hoje.

A ponto de especialistas brasileiros alegarem que Friedenreich não cruzou o limite de 364 gols, o que é apreciável, mas ainda está longe da conta com possíveis competidores europeus de Pelé. Bastará mencionar que o escocês Jimmy Mac Grory permanece com 550 gols, homem-recorde na história dos goleiros da Grã-Bretanha, para medir a margem que os separa de Pelé.

Os mil gols de Pelé foram alvo de estatísticas meticulosas e detalhadas desde 1956. E se a declaração do Sr. Erix de Castro, diretor de estatísticas da cidade de Santos, que tem caráter oficial, foi contestada pelo nosso amigo e correspondente Thomaz Mazzoni, renomado especialista em estatística, esta contestação refere-se a 2 gols que, de acordo com Mazzoni, deveriam ser adicionados à contagem de Pelé.

O essencial é antes de tudo a soma de conquistas que o melhor, mas também o mais marcado, o mais assistido, o mais visado, conseguiu registrar a seu crédito em um período em que o jogo defensivo, ou mais exatamente destrutivo, é galopante em todos. países. 

O facto de ter conseguido também marcar o simbólico milésimo gol no encontro que escolheu com várias semanas de antecedência, em condições de tensão nervosa criada pela opinião pública, a imprensa, a interminável cerimónia que antecedeu o encontro, é mais uma demonstração de maestria.

O significado da façanha

Mas além do mérito e qualidades pessoais conquistas excepcionais de Pelé - que um punhado de pessoas inconscientes tentaram esconder em nome do "realismo"depois da Copa do Mundo de 1966 - o que é crucial na façanha de 19 de novembro, este é o significado que ele reveste pela vida do futebol mundial.
 
O tremendo impacto que teve em todos os países a conquista do "gol mil" é a reabilitação de GOL, do verdadeiro espírito do nosso esporte, distorcido por anos por falsos realistas, mas para o qual todas as publicações mantiveram sua sede. 

Neste período sombrio do futebol, onde placares estreitos são necessários, onde 0-0 é positivo de acordo... ( continua na página 22, logo abaixo da página 21 ).

Na parte azul da página 20: "As confidências de Pelé", e ali está escrito:
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Em notável artigo intitulado "O gol que o mundo aplaudiu" e publicado na revista argentina "El Gráfico", nosso colega Osvaldo Onesime, que acompanhou Pelé em suas últimas partidas, coletou palavras que iluminam a personalidade do grande futebolista brasileiro. 
Evocando seus anos de criança pobre, que viveu pela primeira vez em sua aldeia natal, Três Corações, Pelé falou de sua família que o rodeava de caloroso afeto:
"Meus pais me ensinaram a acalmar as pessoas, a ser modesto, a ficar no meu lugar. Você me entende? Espero também que as pessoas gostem mais de mim  como homem, pelo meu jeito de ser, do que por eu ser um jogador de futebol famoso. Principalmente as crianças, que em todos os países me cercam para me tocar, para me fazer assinar pequenas fotos.
Você sabe por que estou falando sobre isso? Porque ficaria muito infeliz se as pessoas gostassem de mim só porque sou um jogador de futebol famoso."

Falando da emoção que se apoderou dele quando teve que cobrar o pênalti. Pelé contou ao nosso colega argentino:
"Meus músculos e meu pescoço estavam duros ... Achei que ia perder tudo, que Andrada ia parar a bola, que eu iria chutar para fora do gol ... Para fugir dos medos que me assaltavam , no silêncio que de repente reinou sobre o estádio, me virei para pedir ajuda aos meus companheiros ... Quando vi a bola no fundo da rede fiquei muito feliz. É por isso que a apertei ( a bola ) com força contra o meu peito... Em seguida pensei na Kelly, minha menina, porque tive a mesma sensação de quando estava na sala de espera da maternidade esperando seu nascimento ... Pensei nela e em todas as crianças pobres que precisam de ajuda e proteção. "

👉Aqui abaixo, a página 21, e ali está escrito:
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1 - Lançado por Clodoaldo, Pelé é desequilibrado na grande área por Fernando (à direita) que trava a perna de apoio.



2 - Entre seus dois adversário Renê e Fernando, Pelé cai enquanto Andrada corre para agarrar a bola.


3 - Depois da paradinha, Pelé chutou de direita. Andrada parece capaz de parar a bola, mas é uma ilusão de ótica. Apesar do adiantamento ele só consegue roçar a bola.



👉Aqui abaixo, a página 22, onde está a continuação da página 20.
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Destacado em amarelo está escrito:

( Continuação da página 20 ) Neste período sombrio do futebol, onde placares estreitos são necessários, onde 0-0 é positivo de acordo com os partidários da estranha matemática popularizada pelo totocalcio ( o chamado cattenacio - retranca - do futebol italiano ), o gol do melhor atacante de todos os tempos surgiu como um raio de luz  para lembrar a milhões de amantes decepcionados que o futebol tinha em si os meios não apenas para se regenerar, mas para superar tudo o que havia feito de melhor em seus tempos mais prósperos. 

Quem se atreveria a afirmar seriamente que para marcar seus 550 gols, Jimmy Mac Grory teve que enfrentar adversários tão determinados, tão agrupados, tão apertados, tão numericamente reforçados quanto Pelé desde o dia em que se tornou "o homem a ser derrotado", que é, desde que ganhou sua primeira Copa do Mundo em 1958, aos 17 anos?

Para o Brasil, cinco meses antes da Copa do Mundo, o milésimo gol de Pelé tem outro significado. Não é só a prova de que ao marcar este ano o seu melhor total de golos desde 1965 (64) - total superior ao de 1964 - Pelé recuperou toda a sua eficácia, é também a confirmação que, à imagem do formidável avançado do Santos, todo o futebol brasileiro encontrou sua inspiração ofensiva. 

De fato Pelé não foi o artilheiro da seleção nacional em todas as seis partidas das Eliminatórias para o Mundial. Se ele marcou 5 gols -  incluindo um decisivo contra o Paraguai - seu total é inferior ao de seu amigo Tostão, autor de 10 dos 23 gols do Brasil durante esta campanha vitoriosa.

Destacado em 👉rosa, está escrito:



Ele não está mais sozinho

Isso significa que hoje podemos vislumbrar uma mudança fundamental na organização da Seleção Brasileira às vésperas da fase final da 9ª Copa do Mundo.. Pelé não está mais sozinho. E essa mudança aconteceu paradoxalmente no ano que conquistou seu maior triunfo.

Depois de 1958, o desenvolvimento de Pelé foi tão rápido e tão completo, sua consagração foi tão completa, que o Brasil caiu na ilusão de que esse "fenômeno" por si só poderia garantir a supremacia da sua seleção nacional. A tarefa do treinador deve ser definida em termos simplistas: agrupar em torno de Pelé os mais prestigiosos e possivelmente os mais valorosos. O aviso da Copa de 1962 no Chile não foi atendido: Pelé lesionou-se nas oitavas de final, mas o Brasil venceu, após muitos alertas, porque, embora envelhecendo, o quadro da equipe de 1958 manteve coesão suficiente para superar adversários inferiores ou complicados.

Em 1966, na Inglaterra, Nilton Santos, Bellini, Orlando, Zito e Zagallo não estavam mais lá. Djalma Santos e Garrincha estavam no fim de ciclo. Sabemos como os "assassinos" Jetchev e Morais, com a cumplicidade dos árbitros britânicos, impediram Pelé de assumir as terríveis responsabilidades que recaíam praticamente só sobre ele. 
E a Seleção Brasileira conheceu a amargura da eliminação prematura. O resto não esquecemos: a desilusão de Pelé, marcada física e moralmente por um fracasso que não lhe cabia de forma alguma, sua promessa de não mais participar da Copa do Mundo, seu desiludido retorno a uma seleção nacional em busca de um precário equilíbrio. 

E depois foi a recuperação da seleção nacional e de Pelé, a vitória sobre a Inglaterra no Rio (2-1) antes da formidável campanha de qualificação para o Mundial: 6 jogos, 6 vitórias, 23 gols marcados, 2 gols sofridos.

👉Na página 12, a crônica de Pierre Lameignere, onde está em destaque a capa do jornal "O GLOBO" de 20 de novembro de 1969, e embaixo, a revista "GÓL" do antigo país Tchecoeslováquia ( que hoje são dois países: República Tcheca e Eslováquia ), também destaca o 1000º gol de Pelé. Nesta página, Pierre Lameignere escreveu:
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Em 19 de novembro de 1969, pela segunda vez em quatro meses, o homem, através dos americanos, pôs os pés na lua. E nesse mesmo dia, pela primeira vez na história do futebol, um jogador, por meio de um negro brasileiro, atingiu a marca de 1000 gols. Uma conquista fantástica!
No Brasil naquele dia, por uma hora e meia, horário de jogo, o jogador de futebol eclipsou o astronauta.
Saber se Pelé faria o milésimo gol dele era o que importava para os brasileiros. Em primeiro lugar.

"Heresia, marca de incultura, consequência do analfabetismo, etc!" 
Podemos adivinhar as reações que essa prioridade "escandalosa" pode ter despertado em certos círculos intelectuais onde "jogar a bola" é infantilidade, se não infantilismo.
E ainda! A menos que você condene um povo inteiro, senão um continente inteiro, porque foi toda a América do Sul que se sentiu diretamente preocupada com o feito, uma convicção que equivaleria a um verdadeiro suicídio intelectual (na verdade, qual pode ser o papel do intelectual se não para trazer à luz, em plena luz do dia, o significado oculto das atividades que atraem irresistivelmente uma grande corrente de seres humanos), devemos tentar compreender.
O que está por trás do milésimo gol de Pelé? Para brasileiros, sul-americanos, terceiro mundo e todo o mundo?

NÃO É POR ACASO

Gigante da América do Sul, o Brasil carrega em si as feridas mais insuportáveis ​​da América Latina: a riqueza de um punhado de privilegiados, a miséria das massas. A essa injustiça social, o Brasil traz, além de suas dimensões, uma originalidade: neste país existe a mais forte maioria de negros originários da África.

Agora, Pelé é negro. Nome verdadeiro Edson Arantes do Nascimento. Nasceu em 21 de outubro de 1940 em Três Corações (MG). Cujo pai conhecia as dores da miséria.
Qual o valor do futebol nessas condições?

O mérito essencial do futebol é ser, pela sua origem e pelas suas leis, à medida do homem, do mais humilde dos homens. Na prática, o homem pode, portanto, florescer, se afirmar. É por isso que todas as pessoas afetadas pela injustiça social encontram alegria e refúgio num campo onde a dignidade lhes é devolvida.

É por isso que tantas vezes a atrofia social leva ao desenvolvimento esportivo. É também por isso que, uma vez que têm oportunidade, as vítimas da discriminação, não só social mas racial, querem tornar-se e tornar-se as melhores.

Além disso, não é por acaso que o melhor jogador de futebol do mundo nasceu no Brasil, uma verdadeira terra do futebol! E não é por acaso que o esporte do homem, o futebol, optou por encarnar um homem de origens modestas e um homem de cor.
Aos brancos, os americanos retribuirão a honra de terem cruzado os limites da Terra.
O negro brasileiro voltará a ser considerado o melhor jogador de futebol da atualidade e terá atingido a marca de 1000 gols.
Nesse ínterim, não podemos esquecer, o Brasil da revolta lançou um desafio à América da opressão sequestrando seu embaixador!

É por isso que, de um certo ponto de vista, se pode e deve escrever: A humanidade teve duas capitais desde 19 de novembro de 1969. A América, de onde mediu suas imensas possibilidades técnicas ... e o abismo que separa essas possibilidades das humanas realidades. E o Brasil, de onde teve a força de uma paixão mesclando na mesma comunhão milhões de homens com dignidade reconquistada ... e além do mais tão privados de vantagens materiais!

Em nossa opinião, é isso que está por trás do tão esperado milésimo gol de Pelé. Mas se os brasileiros primeiro, a América do Sul e todo o terceiro mundo depois devem sentir um orgulho incomparável de ver um deles, um homem de cor, sendo o melhor na primeira paixão esportiva do homem, o europeu também captura a grandeza deste evento inédito .

O CONTRAPESO

Mas não é impossível que um toque de amargura se junte a ele. Na verdade, o futebol ainda nasceu na Inglaterra e a Europa tinha assumido uma boa liderança. No entanto, a Europa foi alcançada e depois aprovada. E esse recorde que atinge centenas de milhões de homens - que rentabilidade publicitária, porém - não é dele!

Exatamente! Que lembrança inestimável e oportuna do movimento da vida do futebol nos traz de volta lá! O berço deste jogo é certamente inglês, mas sua melhor amostra é hoje americana e branca, mas temos o direito de esquecer que a civilização terrestre nasceu na África, às margens do Nilo?

Se o futebol está agora no caminho oposto ao das ciências espaciais, se se revela como seu contrapeso, é sem dúvida para lembrar à humanidade esta verdade: atrás da mais fenomenal das façanhas o homem se esconde através da sua história, e não um ser superior, nação ou corrida.

Os pretos são as raízes da nossa civilização. O branco é hoje seu botão mais bonito (em inteligência racional).
Os brancos são as raízes do nosso futebol. O preto (brasileiro) é hoje seu melhor espécime.

Aqui está a grande lição deste 19 de novembro de 1969: na época em que grande poderia ter sido a inveja dos Brancos (África do Sul, que existe) em acreditar na demonstração de sua supremacia, que um Negro faz ao mesmo tempo a prova de sua superioridade atual e indiscutível em um campo que também fascina o mundo, nada é mais saudável.

Em ambos os casos, o mesmo homem venceu. Mas é um sinal dos tempos que o preto lembra os brancos.
P. Lameignere.

E por fim, a tradução da página 44, do "GOL do Século".

Já aconteceram centenas de “partidas do século”. Mas é duvidoso se assistiremos, nas próximas três décadas, à queda do recorde que o PELE estabeleceu em 19 de novembro no Rio de Janeiro ao registrar seu gol número 1000 °.

Duas fases inéditas dessa constatação de que os 80.000 espectadores do Maracanã esperaram ansiosamente por 77 minutos e que seguiram ofegando antes de dar rédea solta a um entussiasmo delirante.

1) PELE após ser "derrubado" na grande área por FERNANDO (4) o líbero Vasco da Gama. Coloca a bola na marca de pênalti. Seus parceiros caíram para a linha média, alguns de seus oponentes parecem muito zangados.

2) Após um tiro falso de esquerda, PELE bateu na bola com a parte interna do pé direito. ANDRADA, goleiro do Vasco, muito avançado, mergulha bem, mas só arranha a bola branca que vai bater na parte inferior das suas redes. PELE continuará sua corrida, jogando-se na bola, beija-a freneticamente.

Quem leu tudo, do início ao fim, não conseguiu ver em nenhuma parte do texto "gol-oficial" ou "gol não-oficial"
Sabem por que? 
Porque não existia!
Se "gol-oficial" e "gol não-oficial" existissem, os jornalistas dos maiores jornais brasileiros e europeus daquela época certamente saberiam, certo?
E não teriam publicado em seus jornais o 1000º gol de Pelé, certo?

-A REVISTA COMPLETA em PDF👉   AQUI

-AS PÁGINAS 20, 21 e 22 ( TRADUZIDAS para Português ) EM PDF👉AQUI

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