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Pelé beija seu prêmio símbolo da Bola de Prata / Crédito: Foto: Lemyr Martins
Quando PLACAR instituiu o troféu
Bola de Prata, em 1970, Pelé ainda estava em campo.
Mas um dos itens do regulamento dizia que ele era
hors-concours. Ou seja: era tão superior aos outros concorrentes que não poderia receber notas nem ser eleito como o melhor do ano em sua posição.
Em 1971, o Rei recebeu um troféu símbolo ao completar
1 000 jogos,
em um amistoso obscuro no Suriname entre o Santos e o Transvaal.
O enviado especial da PLACAR,
Lemyr Martins, levou uma
camisa e uma Bola de Prata para Pelé comemorar o feito.
Leia, abaixo, o relato da milésima partida do maior jogador de futebol da história,
ocorrida em 26 de janeiro de 1971, e logo a seguir,
como esta
camisa comemorativa com o número 1000 à frente foi recuperada 42 anos depois.
Pelé, mil jogos pelos campos do mundo
Oito horas da noite, dia 28 de janeiro de 1971. O Suriname Stadium, com capacidade para 13 mil pessoas e único em Paramaribo, começa a viver os momentos mais importantes em toda sua história. Dentro de alguns minutos Pelé estará começando a jogar sua milésima partida, além de ajudar, com a sua presença, para a queda do índice de mortes por acidente de trânsito na cidade em 70%.
Com o lucro desse jogo os organizadores vão iniciar a construção de um viaduto, perto do mercado, na zona comercial mais movimentada de Paramaribo e onde, no ano passado, houve 104 mortes. Em maio Pelé deve voltar a Paramaribo para inaugurar o viaduto, que terá o seu nome e que, praticamente, acabará com esse problema.
O Transvaal, campeão da cidade, é o primeiro a entrar em campo. Às 8h10, tendo Pelé como capitão, o Santos aparece e ganha mais aplausos.
Como é um jogo especial, os jogadores não ficam um ao lado do outro: formam um círculo e, no meio dele, fica Pelé. Um por um, os jogadores vão abraçar Pelé. O estádio inteiro, inclusive o primeiro-ministro, o representante da rainha e as demais autoridades de Paramaribo, não pára de gritar o nome de Pelé.
Ele ganha taças e lembranças e, do Brasil, apenas um presente. O primeiro-ministro anuncia que PLACAR vai entregar a Bola de Prata ao atacante. Pelé veste a camisa de PLACAR e posa ao lado dos jogadores do Transvaal.
Todos eles querem ficar com essa camisa, mas Pelé se desculpa,
explicando que vai guardá-la como lembrança da única homenagem do Brasil.
No meio de toda essa festa, Pelé não esquece de pedir ao governador e representante da rainha o perdão para os jogadores punidos pela Federação. Um deles, Grootfaan, estava até proibido de jogar futebol, pois ameaçara o juiz de agressão. Alguns minutos depois o governador anuncia que todos estão perdoados e o público aplaude.
No estádio um torcedor está bastante nervoso. Ele é Marius Pinas, um crioulo de cinqüenta anos, oito filhos e que é chamado de "Pinas Pelé" por seus amigos, tão grande é a sua admiração pelo brasileiro. Marius tirou três dias de licença da firma onde trabalha "para acompanhar Pelé e tirar uma foto ao seu lado". Marius queria até pedir a Pelé que passasse por cima dele, antes de pisar em solo do Suriname.
Como ele, o restante do estádio está impaciente. São 31 minutos e Pelé não fez o seu gol.
Mas nesse momento, Edu, depois de driblar vários adversários, é derrubado na área. O juiz ainda fica em dúvida, mas o bandeirinha confirma que foi dentro da área. É o bastante para o estádio todo começar a gritar "Pelé, Pelé". Com calma, ele caminha para a marca de pênalti. Trinta e dois minutos: o juiz Schakot apita, Pelé corre para a bola, dá a paradinha, chuta no canto direito e o goleiro Baron cai para o esquerdo. Depois, com a mesma tranqüilidade, caminha para o meio.
O público se entusiasma, pede outro gol a Pelé. O Rei começa a correr com maior disposição e o público fica triste: ele vai para o vestiário, dando lugar a Marçal.
26/1/71 SURINAME ST. (PARAMARIBO)
TRANSVAAL 1 X 4 SANTOS
J: Schakot; G: Árlem 7 e Reumel 14 do 1º tempo; Edu 7, Pelé (pênalti) 35 e Edu 42 do 2º tempo.
SANTOS: Cejas, Lima, Ramos Delgado, Orlando e Turcão; Leo e Pitico; Árlem, Douglas, Pelé e Edu. T: Antoninho
TRANSVAAL: Baronm, Norlan, Gesser, Sordan e Boschman; Klimpsop, Lagadu e Bundel; Van Bur, Schal e Bramerloo (Sing).
A história da camisa nº 1000, que 42 anos depois, voltou à Placar
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