Crônica escrita pelo
Professor João José Forni em 2012, mas que serve perfeitamente para 2015 e para qualquer data de aniversário do Rei Pelé:-)
*Algumas partes do texto original foram modificadas para melhor entendimento nas traduções para os idiomas de outros países, mas a essência do texto original continua exatamente a mesma.
PARABÉNS PELÉ!
Pelé completou 75 anos. Para qualquer pessoa chegar com saúde,
lucidez, realizado e admirado, nessa idade, já seria uma grande vitória. Mas os
75 anos de idade do maior jogador de futebol de todos os tempos tem significado especial
para a maioria dos brasileiros e fãs do futebol pelo mundo.
Nenhum nome atravessou pelo menos seis décadas sendo praticamente unanimidade nacional como é o caso de Pelé. Poucos heróis da história, presidentes, cantores,
artistas populares ou qualquer outro atleta de renome sobreviveram na
memória popular por tanto tempo. Sumiram na poeira da história.
Pelé não. Ele se mantém, aos 75 anos, tão popular quanto foi a
vida toda. O cidadão Edison Arantes do Nascimento conseguiu uma mistura perfeita entre
o homem e o mito, a ponto de não sabermos quem realmente está fazendo
aniversário. Mas esqueçamos o mito e nos fixemos no brasileiro Edson, filho de
família humilde, nascido no estado de Minas Gerais e jogador de futebol nas ruas da cidade de Bauru, localizada no interior do estado de São Paulo.
Ele driblou o destino e fez do esporte o caminho para a glória, num
tempo em que raramente um jogador de futebol, negro e pobre, podia obter
prestígio internacional e muito menos viver apenas das vitórias e dos lucros.
Pelé, como nenhum outro colega de seu tempo, não apenas se valeu
do talento para conquistar tudo, como soube se manter acima das vaidades, dos
apelos baratos e das amizades interesseiras, que destroem precocemente
carreiras brilhantes. Ele soube passar incólume pela diversas fases do futebol,
tanto no auge da forma, quanto fora dos gramados. Aceitou, quando muito, uma
incursão no futebol americano, apenas porque sonhava expandir o “soccer” para o
país do basquete.
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Pelé recebe uma carta das mãos de Robert F. Corrigan,
cônsul-geral dos EUA, enviada por Richard Nixon,
presidente dos Estados Unidos,
antes da partida contra o Botafogo-RJ,
válida pelo Campeonato Brasileiro de 1971.
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Como esse rapaz humilde conseguiu driblar os apelos,
sobrevivendo à bajulação de reis, rainhas, presidentes, políticos, celebridades de
todos as espécies? Talvez porque a estrela de Pelé sempre foi mais brilhante do
que a de todos os que cortejaram-no. Maradona e outros
atletas de glórias efêmeras buscaram igualar-se a Pelé, mas nada se compara à genialidade
do Rei.
Mesmo fora dos gramados, ele se transformou praticamente numa
unanimidade internacional. Crianças, jovens, adultos que nunca o viram jogar,
são fascinados pela figura carismática e cativante do Rei do futebol.
Deslumbram-se com os lances geniais que o cinema, a televisão e a fotografia
conseguiram eternizar. Quem teve o privilégio de vê-lo jogar, jamais poderá
esquecer.
Certamente é a única celebridade mundial conhecida em todos os recantos do planeta Terra, desde as mais desconhecidas aldeias da África aos mais ricos e luxuosos palácios da Europa.
A presença de Pelé na história do esporte brasileiro e as
comemorações de seus 75 anos são boas oportunidades para a juventude, que
desponta para o esporte, aprender como conviver com a fama, o dinheiro
e até com a derrota.
Pode-se até discordar de Pelé em vários aspectos. Ele sempre
evitou engajamento político. Os partidos políticos da esquerda e da direita tentaram seduzi-lo, mas até
isso ele conseguiu driblar. Pode-se questionar seu posicionamento no período da
ditadura e pré-democracia. Ele procurou passar incólume, sem se engajar, pelos
delicados períodos da história brasileira. Tentaram separar o atleta do homem
público. Nem por isso ficou livre do patrulhamento.
O sucesso no futebol pode não ter sido replicado na vida
pessoal, marcada por muitos amores e alguns dissabores. Mas, embora Pelé sempre
fosse notícia, por qualquer coisa que fizesse, ele procurou não transformar
seus dramas pessoais em manchetes de jornais, como hoje se tornou comum no meio das
celebridades. Ou seja, Pelé soube ser célebre, com elegância e discrição, apesar
do assédio permanente dos fãs, das autoridades e da mídia.
Por isso, à parte sua história de vida, que nem sempre teve a
unanimidade no próprio país, não há quem fique indiferente à sua presença
iluminada, em qualquer lugar que Pelé vá. É o maior embaixador do Brasil no
exterior, pelo carisma, admiração, respeito pelos semelhantes e,
principalmente, porque todas as platéias sabem que até hoje não surgiu um
jogador de futebol capaz de sequer fazer sombra a Pelé.
O jogador, apesar de celebridade, soube como ninguém lidar com a
fama e a mídia, um ingrediente indigesto para qualquer pessoa, ainda mais para
quem nasceu pobre como Pelé. Mas por ser gênio, sem deixar de ser humilde, até
mesmo esse assédio ele aprendeu a driblar. Sem se empolgar tanto, não se
transformou nessas celebridades chatas, que vivem agredindo fotógrafos e
jornalistas, fugindo dos paparazzi e se escondendo atrás de assessores e
seguranças.
Por isso foi sempre respeitado pela imprensa, que até nos momentos
conturbados de sua vida pessoal soube separar o atleta genial do cidadão Edison
Arantes do Nascimento.
De tanto ser louvado por jornalistas, poetas, escritores,
cantores, compositores, Pelé se transformou em sinônimo de alguém brilhante
naquilo que faz. O jornalista e escritor Armando Nogueira resumiu numa frase
tudo que nós pensamos sobre esse menino precoce, campeão do mundo aos 17 anos:
"Pelé é tão perfeito que se ele não tivesse nascido gente, teria nascido
bola".
Feliz aniversário, Rei Pelé. (23/10/15)
Por
professor João José Forni
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